A verdadeira face de Richard Stallman

A verdadeira face de Richard Stallman

    Em 2019 Stallman renunciou de seu cargo no MIT e na FSF após manifestar suas opiniões defendendo Jeffrey Epstein que respondia judicialmente por abuso e trafico sexual e pedofilia. Dias depois renunciou também de seu cargo no projeto GNU. Esse ano foi anunciado o seu retorno à FSF, o que ocasionou frustração em muitos  e até mesmo ao imediato corte de financiamento feito pela Red Hat.

    Suas opiniões sempre foram polêmicas (religião, política e questões sexuais). Em 2006 por exemplo Richard Stallman afirmou em seu site pessoal ser 'cético quanto à afirmação de que a pedofilia voluntária causa danos às crianças'. Em 2011 Stallman falou da morte de Steve Jobs em um tom como uma vitória "ficando livre de sua influencia maligna" (foi a partir daí que tomei antipatia dele). E mesmo com todas as suas declarações absurdas, seus assíduos seguidores o defendem como se fosse absoluto. Mas afinal de contas, quem é Richard quando se trata de tecnologia?

 Bom, então vamos ao assunto. Conhecemos Richard Stallman como o criador do GCC, do EMACS, da licença GPL, e de "todo" o projeto GNU que por sua vez fornece todas as ferramentas que utilizamos nas distribuições Linux; o que nada disso é realmente e totalmente verdade. A começar pelo GCC, o que Richard Stallman realmente desenvolveu foi uma extensão para o Amsterdam Compiler Kit (também conhecido como Free University Compiler Kit que é a toolchain que foi desenvolvido por Andrew S. Tanenbaum para o Minix). Stallman pediu autorização a Tanenbaum para utilizar o Amsterdam para a partir do Compiler Kit criar o GCC. Seu pedido foi negado e a partir daí outras pessoas o ajudaram a estender essa extensão a um compilador.

    O que me questiono é: Será que Stallman teria dado créditos ao Minix? Duvido e muito. Primeiro porque basta observar o micro-kernel do projeto GNU, o HURD. Seu nome na verdade é GNU Mach e não HURD; HURD é o nome do seu conjunto de daemons e este micro-kernel não foi desenvolvido pelo projeto GNU, mas pela universidade de Carnegie Mellon. Se trata do mesmo kernel utilizado pela Apple no MacOS e no iOS, o Mach kernel (pois é... brigam tanto pelo reconhecimento do nome GNU mas quando se trata de reconhecer o Mach, divulgam o nome do conjunto de daemons...)


    Por que o nome de Guy Steele e Dave Moon não são citados quando se fala de EMCAS já que esses (entre outras pessoas) são seus verdadeiros autores? (há mais informações sobre a inteligência artificial do Emacs que quero tratar, mas isso vou deixar mais para frente. Parênteses adicionado no dia 07 de Fevereiro de 2022) Porque Eben MoglenBrett Smith não são citados quando se fala de GPL? Eben Moglen é o co-autor da GPL e Brett Smith quem fazia a parte executiva na FSF (alias, esses são as mentes brilhantes da GPL. )

Link para esta imagem está disponível clicando aqui

    Quatro liberdades é na verdade um termo antigo criado pelo presidente Franklin Delano Roosevelt em 1941 e há até um memorial em seu nome com essas liberdades). Já o termo software livre já era utilizado muitos antes do projeto GNU, bem no inicio dos anos 80 (antes de a Apple processar a Franklin Computer Corp.) por grupos como o DECUS e o projeto Gutenberg muito antes do projeto GNU e da FSF.



    Alguém se lembra que Roland McGrath é autor da Glibc? E Brian Fox? Alguém sabe o que ele fez? Parece que esquecemos facilmente os nomes de pessoas que realmente fizeram a história. No GCC aconteceu a mesma coisa; no final da década de 90, a administração do desenvolvimento do GCC era frustante e por consequência, a FSF já tinha se tornado quase esquecida. Isso levou a Cygnus Solutions (ou Cygnus Support) a criar o EGCS, um fork do GCC que se tornou um sucesso e até substituiu a versão oficial do GCC. A Cygnus Solutions criou também a newlib, o Cygwin e o binutil; Trata-se do mesmo compilador que menciono da série "Os vários sabores de Linux" que foi utilizado para compilar o Gentoo devido a bugs no GCC (o EGCS melhorou o desempenho do Gentoo em 10% em todo o sistema).


 Depois a Cygnus foi adquirida pela Red Hat fazendo com que todos herdassem essas melhorias e... aqui entra o ponto de ação do projeto GNU. A FSF negociou com a Cygnus para que o nome do EGCS fosse substituído pelo GCC no próximo lançamento (a versão 2.95). Pois é, o que você conhece hoje como GCC é na verdade o EGCS. O GCC só é um coleção de compiladores poderosos graças aos esforço de muitos outros projetos como os BSDs, o Solaris, o Linux, a Intel, o Google e muitos outros. Alias, por que o nome não foi substituído por EGCS/GCC já que a FSF e o projeto GNU brigam tanto pelo reconhecimento do nome GNU?

O nome EGCS substituído por GCC no lançamento da versão 2.95
O nome EGCS substituído por GCC no lançamento da versão 2.95

    A Glibc não fica longe da mesma situação. Uma variante da Glibc chamada EGLIBC foi criada e que possuía forte suporte a embarcados (algo que a glibc não possuía) e em 2009 a distribuição Debian (assim como várias outras distribuições e o projeto YOCTO) migraram para a EGLIBC). Depois que o código da EGLIBC foi incorporado a Glibc, as distribuições e o projeto YOCTO voltaram a utilizar a glibc. Grande parte das system calls presentes na glibc foram adicionadas pela galera de Linux; pipe2 por exemplo (man 2 pipe2) que serve para criar um canal de dados unidirecional que podem ser utilizados para comunicação de interprocessos foi introduzido no Linux em 2008. A system call O_DIRECT (fortemente utilizada na Bionic do Android) está presente no Linux há mais de 20 anos. ambas são system calls do Linux, não do GNU. O que conhecemos no Linux como libc6 (ou libc.so.6) é um fork da glibc foi criada por Ulrich Drepper para adicionar suporte a thread. Falando nisso, Ulrich Drepper, que é  o mantenedor da glibc depois de descrever todas as características da nova versão, soltou a seguinte nota: 
E agora para algumas coisas não tão boas.

Stallman recentemente tentou o que eu chamaria de um controle hostil do desenvolvimento da glibc. Ele tentou conspirar pelas minhas costas e persuadiu outros principais desenvolvedores a assumir o controle e assim no final ele está no controle e pode ditar o que for que lhe agrade. Essa tentativa falhou mas ele continuou a persuadir as pessoas em todos os lugares e isso ficou realmente feio. No final eu concordei com a criação de um comitê chamado "steering committee" (SC). O SC é diferente do SC em projetos como o gcc em que ele não toma decisões. Nessa frente nada mudou. A unica diferença é que Stallman agora não possui direito de reclamar mais. desde que o SC que ele queria reconheceu status. Espero que agora ele vá ficar calado para sempre.

 A moral disso é que as pessoas vão perceber quão louco por controle e maníaco o Stallman é. Não confiem nele. Assim que algo não estiver na linha com suas visões ele vai te apunhalar pela costas. *NUNCA* coloque voluntariamente um projeto que você trabalha sob a guarda do GNU desde que isso significa nas opiniões do Stallman que ele tem o direito de tomar decisões pelo projeto.

A situação da glibc é ainda mais assustadora se compreender a história por traz dela. Quando eu comecei a portar a glibc 1.09 para Linux (que eventualmente se tornou a glibc 2.0) Stallman me ameaçou e tentou me forçar a contribuir para o trabalho do Hurd. O trabalho no Linux seria contraproducente para o curso do software livre. Então veio o que seria chamado de abraçar e estender se realizado pelo Mal do Noroeste, e sua reivindicação por tudo que leva ao sucesso do Linux.
    O resto pode ser conferido clicando aqui. Esse foi um dos motivos de não haver a migração do Linux para GPLv3 (e graças a Deus por isso) quando Linus decidiu manter o kernel linux somente como GPLv2 e o Debian ter migrado para a EGLIBC do Debian 5 até o 8.


1998

    Falando do final dos anos 90, 1998 foi o ano onde muitas coisas aconteceram. Estávamos a caminho do kernel 2.2; Linux já possuía suporte a arquiteturas alpha, sparc,mips, m68k e arm e a adoção do Linux havia aumentado 212% depois que a Netscape incentivou desenvolvedores a tal adoção devido ao Java e depois que disponibilizou o código fonte do seu navegador (que veio a se tornar o Firefox). Tudo ia muito bem ATÉ QUE..... Richard Stallman tenta proclamar Linux como propriedade da FSF (essa é a ideia por trás do termo GNU/Linux camuflado de pedir créditos).

    Richard Stallman já havia declarado no passado que o Hurd iria substituir o Linux; porém ao invés de focar em engenharia de software, ele ficou focado demais em idealismos, filosofias e politica e com isso o projeto GNU fracassou em produzir um sistema operacional funcional e utilizável (e te enganaram se te disseram que o kernel a unica coisa que o GNU precisa para ser um sistema operacional completo). Então Richard Stallman resolveu mudar sua estratégia (focar nos novos desenvolvedores de Linux).

    Os novos desenvolvedores não conheciam nada da história do Linux; eles não tinham tempo para ficar perdendo com história (e faziam até bem com isso) pois estavam preocupados na verdade em aprender metodologia de desenvolvimento e conhecimento técnico; e foi aí que Stallman viu a sua oportunidade. Já que os novos desenvolvedores não conheciam a história do Linux, ele os contaria a história da FSF e passaria a reivindicar créditos pelo Linux.
É como o espanhol George Santayana afirmou: "Aqueles que não conseguem se lembrar passado estão condenados a repeti-la."
    O que Richard Stallman ignorou completamente (e que inclusive tenta levar créditos) foram todos os trabalhos feitos não somente por Linus (engana-se se quem acha que os únicos projetos que Linus Torvalds desenvolveu foram o kernel Linux e o Git), mas também de todas as contribuições feitas pela comunidade Minix (que foi a partir da comunidade Minix que constituiu-se a primeira comunidade Linux), pelos desenvolvedores de Berkley, do projeto Athena do MIT que Stallman fez uso durante muito tempo para compartilhar o projeto GNU na internet (e que alias, foi o projeto Athena que deu origem  ao X Window System sendo seu antecessor chamado W), o manual POSIX da Sun Microsystem que foi utilizado por Linus para estudar e desenvolver o Linux, os patches desenvolvidos pelos desenvolvedores do SunOS para o GCC e que tornaram o GCC funcional, o projeto Gutenberg que deu origem ao conteúdo aberto e até a galera de FreeBSD (sim, Stallman tentou levar creditos do FreeBSD, mas a galera do FreeBSD apontou o dedo na cara dele e riu dele).

 (07 de Fevereiro de 2022) Em uma entrevista concedida a Hiroo Yamagata (o que hoje é difícil encontrar, mas eu tenho o PDF. Se alguém encontrar essa entrevista e quiser me fornecer o link, vou agradecer) do site Tokyo Linux Users Group (antigamente tlug.gr.jp e hoje https://www.tlug.jp/), o próprio Linus Torvals afirmou que deixá-los propagar o nome gnu/Linux foi um erro que cometeram:
HY: Sobre o argumento GNU/Linux; você conversou com Richard Stallman a respeito disso?
Linus: rms me perguntou se eu me incomodava com o nome antes de começar a usá-lo, e eu disse "vá em frente". Eu não achava que isso explodiria no longo debate que resultou, e eu também achava que rms só usaria para lançamento específico do Linux que a FSF estava trabalhando ao invés de "todo" o sistema Linux. Eu nunca pensei que a questão do nome fosse tão importante assim, mas eu obviamente estava errado ao julgar pela quantidade de pessoas que se sentiram muito fortes com isso. Então hoje em dia eu digo às pessoas para chamá-lo simplesmente de "Linux" e nada mais.
 (termina aqui a nova adição de Fevereiro de 2022. Lembrando que essa entrevista foi concedida no dia 30 de Setembro de 1997)

    Rob Landley (criador do toybox) até tentou explicar marketing para Stallman nesse mesmo ano dizendo que o termo GNU/Linux gerava confusão na cabeça das pessoas pois haviam distribuições como Debian Linux, Red Hat Linux, Suse Linux e etc... mas não havia uma distribuição GNU Linux. O que Rob Landley incentivou foi a criação de uma distribuição Linux do projeto GNU porem, ao invés disso, passaram a promover com mais veemência o termo "GNU/Linux" (algo que Rob landley pede desculpa a todos por considerar isso um transtorno).

    Ano conturbado. Não?...


Conclusão

    Eu sei que os seguidores fieis e assíduos do Stallman vão vir aqui me atacar de todas as formas, mas interessante saber que internamente eles mesmos criticam e atacam o Stallman; eles só não gostam que pessoas de fora do circulo deles façam mesmo.



https://landley.net/notes-2010.html#19-07-2010

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2 comentários:

  1. As três primeiras declarações do R.M.S já conhecia, principalmente a briga dele com outros desenvolvedores pelo direito de ser reconhecido como o principal desenvolvedor do editor de texto, EMACS, mas esse texto foi o mais completo.

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    1. Valeu. Ainda há informações que quero adicionar que na época que escrevi não parecia pertinente (como é o caso da inteligencia artificial doctor dentro do Emacs que também não é realmente de autoria do stallman).

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